CCJ da Câmara aprova admissibilidade de proposta que revoga PEC da Bengala

CCJ da Câmara aprova admissibilidade de proposta que revoga PEC da Bengala

Matéria reduz idade limite de atuação de membros dos tribunais superiores de 75 para 70 anos. Se valer para a atual composição, abrirá duas novas indicações no STF para Bolsonaro.

A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara aprovou nesta terça-feira (23), por 35 votos a 24, a admissibilidade de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que revoga a chamada PEC da Bengala.

A CCJ analisa apenas a admissibilidade de uma proposta – ou seja, se atende aos requisitos constitucionais e regimentais – e não discute o mérito do projeto. A discussão durou quase cinco horas. O texto segue agora para uma comissão especial, que poderá fazer alterações no seu conteúdo.

A “PEC da Bengala” foi promulgada pelo Congresso em 2015 e estabelece a aposentadoria compulsória de ministros de tribunais superiores e do TCU apenas aos 75 anos. À época, a medida era tratada oficialmente como uma economia aos cofres públicos, a fim de se evitar desperdício de “talento” e de “experiência”.

Se o projeto for aprovado, a idade para aposentadoria de um ministro nos tribunais superiores e no Tribunal de Contas da União (TCU) passaria de 75 para 70 anos.

Se a mudança valer para os atuais ministros e a proposta for promulgada antes de 2023, o presidente Jair Bolsonaro teria mais duas indicações para o Supremo Tribunal Federal (STF). A PEC permitiria a aposentadoria imediata de Rosa Weber e Ricardo Lewandowski, ambos de 73 anos, que, pela regra atual, se aposentam somente em 2023.

A PEC aprovada na CCJ é de autoria da deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da CCJ e aliada de Bolsonaro. A parlamentar é conhecida pelas críticas à atuação do STF e é alvo de inquérito aberto para investigar atos que defenderam causas antidemocráticas, como o fechamento do Congresso e do Supremo.

Segundo Kicis, a PEC da Bengala “revelou-se extremamente prejudicial para a carreira da magistratura, que ficou ainda mais estagnada do que já era”.

A deputada, contudo, disse que “há um compromisso” para alterar a proposta na comissão especial e definir que os atuais ministros não sejam atingidos pelas mudanças. O texto original prevê que as alterações já valem a partir da sua promulgação.

Discussão

Crítica à matéria, a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) defendeu a retirada da proposta de pauta e chamou o texto de “PEC da vingança”.

“É a tentativa evidentemente de ampliar para quatro as indicações do Bolsonaro, colocando mais conservadores ou pessoas vinculadas à ideologia da extrema direita na Suprema Corte”, disse Melchionna.

A deputada lembrou que, caso Bolsonaro seja reeleito no próximo ano, teria direito a sete indicações no STF até o fim de 2026, se a PEC for aprovada e valer para os atuais ministros – incluindo as duas indicações já feitas, de Nunes Marques, já ministro, e de André Mendonça, que aguarda sabatina na CCJ do Senado.

Outro aliado de Bolsonaro, o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) defendeu a proposta que, segundo ele, vai colocar “mais um instrumento de freios e contrapesos na nossa República”.

“Onde já se viu um ministro do Supremo, que em tese pode ser indicado a partir dos 35 anos de idade e se aposentar da carreira de ministro com 75, ou seja, é vitalício”, disse. “Temos que oxigenar o Supremo”, afirmou Jordy.

O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) defendeu a redução para 70 anos, desde que “não haja casuísmo”. Segundo ele, o conteúdo da PEC deve ser alterado para deixar claro que os atuais ministros não sejam afetados pela mudança,

“Dá para reduzir [a idade de aposentadoria] sem mexer naqueles que hoje lá estão no Supremo e que preenchem os requisitos da lei, da Constituição em vigência.”, disse Mattos.

Outra proposta

Também na pauta da CCJ desta terça-feira (23) está outra PEC que trata da composição das cortes superiores. Segundo deputados ouvidos pela TV Globo, a aprovação da PEC de Bia Kicis foi um acordo para que esta segunda proposta fosse analisada.

De autoria do deputado Cacá Leão (BA), líder do Progressistas na Câmara, a proposta recebeu apoio de uma série de deputados do Centrão – inclusive do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O texto eleva de 65 para 70 anos a idade máxima para o ingresso de novos membros nos tribunais.

A medida atinge nomeações para o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais, do Tribunal Superior do Trabalho, dos Tribunais Regionais do Trabalho e do Tribunal de Contas da União.

No papel, a justificativa é adequar a idade máxima de ingresso justamente à PEC da Bengala.

“A presente proposta de emenda à Constituição possibilita a ampliação do tempo de trabalho para quem está na ativa e evita aposentadoria precoce, com a subsequente vacância do cargo e necessidade de preenchimento, pela posse de novos integrantes. Por evitar aposentadorias prematuras, acaba, ainda, contribuindo para a sustentabilidade do sistema previdenciário”, diz Cacá Leão na justificativa da PEC.

Contudo, alguns parlamentares afirmam reservadamente que a alteração permitiria, por exemplo, a indicação de aliados no STF que já teriam completado a atual idade máxima para serem nomeados – como a do ministro do Superior Tribunal de Justiça Humberto Martins, que completou 65 anos no dia 7 de outubro deste ano.

g1

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