De acordo com a Fenapef, a proposta de Bolsonaro representa a quebra de compromissos assumidos com os policiais federais ainda na campanha eleitoral
A decisão de Jair Bolsonaro (PL) de conceder um reajuste linear de 5% a todos os servidores públicos federais aumentou a insatisfação de categorias que fazem parte da base eleitoral do presidente da República — como os policiais federais e os rodoviários federais, que alegam estar à beira de uma crise sem precedentes nas corporações. O percentual proposto pelo Palácio do Planalto ao funcionalismo foi divulgado na última quarta-feira.
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) divulgou, ontem, nota criticando o presidente e manifestando “a mais absoluta indignação com a notícia de que a reestruturação das carreiras policiais da União não será implementada” neste ano. De acordo com o texto, a proposta de Bolsonaro representa a quebra de compromissos assumidos com a categoria ainda na campanha eleitoral.
“Devemos lembrar que o governo foi eleito com a promessa de que valorizaria os profissionais de segurança pública e, até então, os profissionais dessa área, tão utilizada pelo governo e, em especial, pelo próprio presidente em suas propagandas na apresentação dos recordes alcançados, foi incapaz de promover qualquer modificação estrutural ou a reestruturação da carreira”, cobrou a Fenapef.
Na mesma nota, os federais destacam o desapontamento que vêm tendo com Bolsonaro. “Temos obrigação de manifestar a nossa profunda decepção com mais essa promessa que estaria prestes a ser descumprida, fato que, caso confirmado, certamente provocará uma crise sem precedentes na Polícia Federal. Esperamos que o Presidente da República analise com cautela a situação”, disseram.
Prontidão
Marcus Firme, presidente da Fenapef, disse ao Correio que a categoria estuda deflagrar uma greve nacional na próxima semana. “Houve uma revolta generalizada com o anúncio do governo. Diante disso, colocamos a orientação aos 27 sindicatos que convoquem as respectivas bases para uma articulação conjunta com as outras forças (policiais) para que estejam em estado de alerta e de prontidão para possíveis desdobramentos da próxima semana”, assegurou.
A decisão já tem data para ser tomada. “Na terça-feira, às 10h, vamos realizar uma assembleia-geral extraordinária para deliberar o que vamos fazer diante desse quadro, com participação virtual de todos os presidentes dos sindicatos”, explica.
Já Flávio Werneck, presidente da Associação Nacional dos Escrivães de Polícia Federal (ANEPF) e diretor jurídico da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) considera que o aumento linear de 5% para todo o funcionalismo significa que o governo federal cedeu à pressão de outras categorias — sobretudo das carreiras típicas de Estado — e, assim, não realizar a reformulação das polícias.
“Disseram que o problema era a fonte de recursos para a reestruturação de carreira. Fizemos todo esforço no (Poder) Legislativo para reservar R$ 1,7 bilhões no Orçamento com essa destinação e, de repente, eles aumentam a despesa em R$ 6 bilhões para fazer reajuste, cedendo à pressão de carreiras típicas do Estado vinculadas ao Ministério da Economia. É muita coincidência”, critica Werneck.
Para ele, a suposta articulação visa impedir o cumprimento das promessas de Bolsonaro aos policiais. “Não houve sequer um movimento do governo para tentar impedir tais movimentos grevistas (das carreiras de Estado). Parece orquestrado para que não se desse reajuste aos policiais”, provocou.
Correio Braziliense