Literatura de cordel e pesticidas também caíram, mas a pandemia de covid ficou de fora. G1 publicou o gabarito extraoficial com a resolução das questões.
O segundo dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado neste domingo (28), abordou o impacto ambiental do acidente em Mariana (MG), a literatura de cordel para falar de corpos celestes e a extinção das preguiças-gigantes no Pantanal. A pandemia de covid ficou de fora.
Uma das questões de matemática, que tratava da Copa do Brasil, no entanto, não tinha resposta correta, segundo professores de cursinhos ouvidos pelo g1. Procurado, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame, não havia se pronunciado até a última atualização desta reportagem. O gabarito oficial deve ser divulgado até quarta-feira (1º).
No total, eram 90 perguntas de múltipla escolha de matemática e ciências da natureza (física, química e biologia).
A aplicação do exame transcorreu sem registro de problemas pelo país. No total, cerca de 3,1 milhões de candidatos se inscreveram no exame. No primeiro dia, 26% faltaram à prova. A abstenção do segundo dia deverá ser divulgada nesta segunda-feira (29).
A aplicação do exame transcorreu sem registro de problemas pelo país. No total, cerca de 3,1 milhões de candidatos se inscreveram no exame. No primeiro dia, 26% faltaram à prova. A abstenção do segundo dia deverá ser divulgada nesta segunda-feira (29).
Em Olinda (PE), um casal brigou na porta da escola onde faria o exame e acabou indo parar na delegacia. No Recife, um irmão e uma irmã chegaram de moto em cima da hora, mas só ela conseguiu entrar no prédio. No desespero, ele chegou a pensar em pular o portão, mas desistiu.
Usado para o ingresso em diversas universidades do país, o Enem representa esperança para muitos candidatos. É o caso de um pedreiro da Bahia de 41 anos que sonha ser engenheiro civil. Ou o da amapaense de 77 anos que quer fazer uma faculdade, mas ainda não decidiu o curso. “Nunca é tarde pra tentar”, disse.
Uma moradora de João Pessoa de 78 anos também fez o Enem com o objetivo de ir atrás de um sonho. Ela pretende retomar os estudos, interrompidos na adolescência, e cursar letras.
Tem ainda a história da estudante de 29 anos que encarou mais de 100 quilômetros de viagem no Amapá, em três horas de van, para fazer o Enem e ser a primeira da família a ter ensino superior.
Quem também fez o exame cheia de esperança foi uma soteropolitana de 45 anos que sempre teve o desejo de cursar pedagogia, mas nunca teve condições financeiras. “Trabalho desde os 9 anos e só agora estou conseguindo”, disse.
Em Belém, um grupo de cosplayers (fãs de personagens) se posicionou na porta de um dos locais de prova com cartazes motivacionais para recepcionar os candidatos. “Eu acredito no seu potencial” e “Vai dar tudo certo” eram algumas das frases.
A estudante de Teresina que, no primeiro dia, esqueceu a identidade e foi salva por um professor que foi buscar o RG na casa dela, se garantiu neste domingo: “Dessa vez, eu lembrei”.
Ainda no Piauí, teve uma estudante que nem no Enem abandonou o time do coração: ela foi vestida com a camisa do Flamengo, mesmo após a derrota na final da Libertadores para o Palmeiras no sábado.
Prova
O segundo dia do Enem foi marcado por uma polêmica na prova de matemática. Professores de seis cursinhos (Anglo, do SAS, do Objetivo, do Descomplica, da Oficina do Estudante e do SEB) afirmam que não tem resposta certa a pergunta de análise combinatória e probabilidade que usava como contexto os times campeões da Copa do Brasil até 2018. A direção do Anglo vai recomendar ao Inep o cancelamento da questão.
As provas contêm as mesmas questões para todos os candidatos, mas a ordem varia conforme a cor do caderno de questões. A questão que não teria resposta é a de número 157 da prova rosa, que corresponde à 138 da prova azul, 155 da prova cinza e 178 da prova amarela.
A questão trazia os 15 times vencedores da Copa do Brasil nas 30 edições do torneio e pedia para o candidato fazer um arranjo para organizar um painel com placas em uma homenagem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aos campeões.
Segundo a professora de matemática Mayara de Souza, do Descomplica, era preciso descobrir a quantidade de painéis diferentes que a CBF poderia montar.
Veja a questão abaixo:
Segundo Enem 2021: Questão 138 da prova azul que, segundo professores, não tem resposta certa — Foto: Reprodução
De um modo geral, a prova foi considerada equilibrada e “com a cara do Enem” na avaliação dos professores.
Em ciências da natureza, uma das questões discutia os impactos em Abrolhos (Bahia) do rompimento da barragem em Mariana (Minas Gerais), a centenas de quilômetros de distância.
Também foram cobrados o conceito de ilha de calor na cidade de São Paulo, carros elétricos e potência dos veículos.
Ainda nessa prova, uma questão trouxe o trecho de um cordel chamado “Senhor dos Anéis”, de autoria de Gonçalo Ferreira da Silva, que falava sobre corpos celestes para abordar conceitos de física. Ao g1, o autor disse que a criação dos versos foi “uma coisa meio espiritual”.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Reprodução do cordel “Senhor dos Anéis”, de Gonçalo Ferreira da Silva, que teve um trecho usado no Enem 2021 — Foto: Reprodução
Houve ainda uma questão sobre a diferença entre a temperatura ambiente e a do corpo usando uma tirinha de “Calvin e Haroldo”, duas questões sobre uso de pesticidas e uma sobre o impacto da extinção de preguiças-gigantes na flora do Pantanal.
Tirinha de “Calvin e Haroldo” usada em questão do Enem 2021 — Foto: Reprodução
Operação no Salgueiro
No domingo, o Inep informou que os candidatos que não puderam fazer a 1ª prova por conta da operação policial no complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), no último domingo (21), vão poder pedir reaplicação do exame.
Segundo moradores, cerca de 500 candidatos não puderam fazer a prova em razão da operação, que terminou com nove mortes. A circulação dos ônibus no local estava prejudicada devido a operação da Polícia Militar. Além disso, por uma questão de insegurança, muitos optaram por não sair de casa.
Candidatos presos
Neste domingo, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, comentou a situação das duas pessoas que foram presas por engano no primeiro dia do Enem 2021 e disse que elas poderão pedir a reaplicação da prova.
“Nós não temos compromisso com o erro. Nem o MEC nem o governo Jair Bolsonaro. Se está errado, está errado. A gente reaplica, sem problema nenhum”, disse.
g1 Foto: Divulgação