Edi Motta é um dos melhores artista do Brasil, e mundo afora. Sucessor do álbum “Criterion of the senses” (2018), “Behind The Tea Chronicles”, já está em todas as plataformas. É um disco que tem como guia o cosmopolitismo e o prazer do cantor por séries de TVs e filmes antigos. A produção é dele. O som ‘Behind The Tea Chronicles’ ultrapassa mais de 500 mil streams.
Isso é só o começo, “Behind The Tea Chronicles” sai pelas janelas, tabelas, vidraças, combogós, escadas, telas, no som do carro, nas calçadas, as ruas, o batimento cardíaco, nesse movimentos fragmentário do som de Edi Motta, enlouquecedor e divino.
14º álbum de estúdio, “Behind The Tea Chronicles”, nos faz cruzar os mares, fronteiras mundiais–musicais, e o artista nos convida a ouvir não só canções soulful e groovy, mas também a mergulhar em climas cinematográficos.
Nascido em 17 de agosto de 1971, no Rio de Janeiro, Ed Motta teve desde cedo uma inclinação pela música. Durante sua adolescência, mergulhado no rock e no blues, foi recrutado pela banda de hard rock Kabbalah para ser o vocalista. Desde então, suas paixões e referências musicais se expandiram para soul, funk, jazz, classic-rock, música clássica, blues e Broadway. E tão jovem, uma estrada pela frente e ele se reinventa a cada trabalho.
Ao longo de sua carreira, EM tenha trabalhado com músicos renomados: Ryūichi Sakamoto, Max Middleton, Jean-Paul “Bluey” Maunick (Incognito), Chucho Valdez, Roy Ayers, Rolf Kühn, Chucho Valdés, Patrice Rushen, Hubert Laws, Bernard Purdie, Dom Salvador, Greg Phillinganes e nosso João Donato e muito mais, muito mais.
Essa é a primeira vez que entrevistamos Edi Motta e ele nunca veio cantar em João Pessoa, mas manifestou que esse desejo e tomara que venha. “Conheço várias cidades do Nordeste, já me apresentei muitas vezes, mas nunca tive oportunidade para me apresentar em João Pessoa. Quem sabe agora?”
Ao MaisPB o artista conta seus dias inteiros dedicados a música e ainda hoje garimpa e compra os Lps, raridades que só ele tem – e não para nunca, não para, não para.
MaisPB – Rapaz, o disco é lindo e ele se distancia dos outros, não pelo tempo – cinco anos, pela maneira que as canções nos transportam. Estou certo?
Edi Motta – Te agradeço demais! Sinceramente não sinto distância, mais um polimento, um aprimoramento. É um pouco do que faço desde meu 2o disco solo em 1990, onde apreciam vinhetas com influência do Blues, Reggae. A partir desse disco fui me aprimorando tecnicamente, de forma autodidata: Leitura, pesquisa, perguntas para os mais experientes.
MaisPB – As canções Soulful e Groovy estão lá na veia do Motta, mas o clima desse disco “Behind The Tea Chronicles” vai além das imagens, parece um concerto?
Edi Motta – Com certeza o sotaque Soul/Funk está presente desde o 1o disco, mas agora com maior refinamento harmônico e consequentemente orquestral. As letras agora todas feitas a próprio punho, trazem uma nova ambientação, bastante cinematográfica: Sabotagem, máfia, conspirações.
MaisPB – Sempre que escuto seu som, os discos anteriores e mais esse agora, a gente sente a potência ao criar um cenário imaginário, com letras provocantes. Como nasceu esse rapaz de 14 anos, o citado 14 álbum de Ed Motta?
Edi Motta – Eu sou da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, aqui se denomina “Tijucano” um bairro com atrativos diferentes do cartão postal. Um bairro com muitos cinemas (que viraram neo-igrejas) e muitas lojas de discos, alfarrabistas. Nasci em frente uma banca de jornal, meu imaginário é a vida urbana, minha paisagem predileta é uma livraria.
MaisPB – O melhor do seu disco “Behind The Tea Chronicles”, além de luxuoso, com elementos mais mundiais o funk, soul, jazz etc ( detesto etc)e só você faz isso por essas bandas esquecidas tropicais e caretas? Ou seja, o som de Ed Motta é arte por toda parte.
Edi Motta – Essa forma de olhar a música está em desuso mundialmente, os ouvidos ficaram treinados em escutar sensações sônicas que não fazem parte do que se pode considerar realmente música. A música que faço é reflexo de minha informação, minhas coleções, meu modus vivendi, essa premissa é comungada por todos, cada um expressando sua observação do mundo.
MaisPB – Abre o disco com Newsroom Costumers e dá logo uma vontade de dançar como antigamente – lá pelos anos 80. Que maravilha sua voz nessa canção.
Edi Motta – Musicalmente tem uma influência nordestina grande na rítmica dessa música, isso aparece sobretudo nas percussões, e nos pianos e teclados.
Esse sabor nostálgico é um retrato da minha alma que tem saudade do que aconteceu mês passado… O presente nunca me soa interessante, o tempo precisa homologar.
MaisPB -Of Good Strain é a mais bonita, é como se você estivesse conversando com a gente?
Edi Motta – É uma valsa sobre uma cientista que é boicotada por uma família poderosa e proprietária de vários hospitais. Ela cura as pessoas do pequeno vilarejo, a “grande família” mata. Musicalmente tem algo da música francesa e de musicais “Off-Broadway”, não os blockbusters.
MaisPB – Buddy Longway é linda demais, parece Bob Dylan, uma canção country americano, a estrada, a vida se esticando, sei lá, não só pela referência ao personagem francês de quadrinhos…
Edi Motta – Fiz essa música em 1992 e nunca consegui achar um disco onde fizesse sentido estético para mim colocá-la. Tema estradeiro, andando de cavalo, poeira no rosto e sol de região semi-desértica. Tem o elemento de Blues rural, Son House, Bukka White, Fred McDowell.
MaisPB – “Delux Refuge” lembra Stevie Wonder, ( se não lembra, perdão) é como se tudo estive no disco, na cabeça de Ed e vai chegando até a gente pensar em voltar ao ouvir todos seus disco, é foda viu?
Edi Motta – Eu sou obcecado pelo Stevie Wonder, a influência dele na música vai aparecer o tempo todo. Esse tema é um Samba-Jazz repleto de elementos não usuais no gênero como uma tabla Indiana. Um grupo de mafiosos limpam o dinheiro em restaurantes, e em seguida se tornam investidores. A narrativa tem sempre acidez, cinismo.
MaisPB – Você ainda delira muito com os LPs montados pelas paredes da memória?
Edi Motta – Eternamente, a peça de arte que é um vinil é uma forma de pegar a música com as mãos. A capa é fundamental.Continuo comprando LPs, mas ando encantado com áudio digital em alta definição.
MaisPB – Você conhece o Nordeste, já cantou aqui em João Pessoa?
Edi Motta – Conheço várias cidades do Nordeste, já me apresentei muitas vezes, mas nunca tive oportunidade para me apresentar em João Pessoa. Quem sabe agora?
MaisPB – Seguinte. Resolvi não seguir o roteiro das definições das canções, mas não deixo de querer ouvir mil vezes “Behind The Tea Chronicles” e criar coisas e mais coisas das suas canções. Estou certo, esse pode ser o caminho?
Edi Motta – Sim, a cada escuta todas as camadas trabalhadas começam a ser desvendadas, cada audição uma sensação nova porque tem muitos elementos, uma tapeçaria Chinesa.
MaisPB – Na verdade, quem é Ed Motta?
Edi Motta – Um inocente que insiste em fazer música intelectualmente honesta. Mas um homem feliz quando o ponto do linguado grelhado na manteiga e limão fica perfeito.
Mais PB