A Maternidade Frei Damião, referência para gestações de alto risco, realizou, na tarde dessa quinta-feira (16), a primeira transfusão sanguínea intrauterina da rede estadual de saúde da Paraíba. O procedimento consiste em realizar uma transfusão sanguínea no feto enquanto ele ainda está no ventre da mãe e é utilizado para tratar a anemia fetal, uma condição grave que pode levar ao óbito do feto, ou diminuir o tempo de gestação ocasionando um parto prematuro extremo.
O médico que conduziu o procedimento é Eduardo Fonseca, obstetra especializado em medicina fetal. “Os exames dessa paciente mostraram que o fator RH dela era incompatível com o fator RH do feto e que isso gerou uma sensibilidade no organismo dela, fazendo com que o seu sistema imunológico atacasse as células sanguíneas do bebê. Essa situação desencadeia a anemia fetal, que pode causar complicações graves para a criança, como nascimento prematuro e até óbito. Ao realizar a transfusão sanguínea intrauterina, possibilitamos que o feto se desenvolva de maneira adequada e por mais tempo no ventre da mãe, diminuindo os riscos de um parto prematuro extremo. Um bebê que poderia nascer hoje, com apenas 32 semanas de idade gestacional, agora tem a possibilidade de se desenvolver por mais três ou quatro semanas no útero da mãe”, explicou.
De acordo com o diretor clínico da Maternidade Frei Damião, Eguimar Fernandes, esse procedimento era inédito na rede pública do estado. “É a primeira vez que realizamos uma transfusão sanguínea intrauterina na rede de saúde do Estado e esse procedimento, além de elevar a qualidade da assistência oferecida pelo SUS, renova o conceito de uma saúde pública de excelência que está cada dia mais evidente na Paraíba. Apesar de não ser uma condição comum, a anemia fetal pode trazer riscos para o bebê e para a mãe e ter a possibilidade de diminuir esses riscos e oferecer uma gestação mais tranquila e segura para a paciente é uma realização para os profissionais da unidade”, afirma.
A paciente que foi submetida ao procedimento é Jessica Daiane Aurélio Alves, de 29 anos, que é acompanhada pelos profissionais da maternidade no ambulatório de alto risco. “Desde o início da gestação os médicos descobriram que eu estava sensibilizada pelo fator RH, então eu fazia exames regularmente para ver o fluxo sanguíneo do bebê ao longo dos meses. Na última ultrassom constataram a anemia moderada na bebê e me informaram que precisava da transfusão para garantir a saúde dela”.
Apesar do susto, Jéssica conta que foi acolhida pelos profissionais e se sentiu confiante na transfusão. “Foi difícil receber essa notícia. Eu tive medo, mas os médicos me tranquilizaram que tudo ia dar certo, eu sabia que estava em boas mãos. De fato, o procedimento ocorreu bem, conseguiram reverter a anemia do bebê imediatamente e tudo foi feito de forma muito humanizada, me senti segura e acolhida o tempo inteiro. Agora só preciso esperar mais algumas semanas com ela guardadinha aqui dentro, porque esse foi o principal motivo dessa transfusão: quanto mais tempo ela ficar aqui até o momento ideal para o parto, melhor”, falou emocionada.
Transfusão sanguínea intrauterina – O procedimento é indicado no período gestacional entre 20 e 35 semanas e pode ser a única maneira de salvar a vida do feto nos casos de anemia fetal, que acontece quando os glóbulos vermelhos (hemácias) presentes na circulação do feto são destruídos por anticorpos produzidos pela mãe, que acabam atravessando a placenta. A transfusão é realizada através de punção do cordão umbilical guiada por ultrassonografia. Por meio da punção, o feto recebe um sangue específico e os exames laboratoriais feitos no início do procedimento e ao final, comprovam que o nível adequado de células vermelhas no sangue foi reestabelecido.