PT ainda deve consultar partidos aliados sobre a composição; em junho, chapa será votada em encontro nacional da sigla. Minoria dentro do PT critica definição de Alckmin como vice.
O diretório nacional do PT aceitou nesta quarta-feira (13) a indicação do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) para compor uma eventual chapa presidencial ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022.
Mesmo com mobilizações contrárias dentro da sigla, Alckmin teve a indicação aprovada por 68 votos favoráveis, 16 contrários (13 contrários a Alckmin como vice, mas a favor de aliança com o PSB; e três contrários a Alckmin e à aliança com o PSB).
Membros das correntes minoritárias do diretório criticaram a maneira pela qual a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), conduziu o processo. Essas correntes argumentam que a direção do partido não respeitou as demais instâncias partidárias antes de colocar o assunto em votação no diretório.
O PT deve encaminhar consultas às legendas que vão compor coligações e alianças com a sigla na disputa pela presidência. O partido quer saber se há oposição, dentro desses partidos, ao nome de Alckmin.
Até o momento, o PT já firmou alianças com PV, PCdoB – os três devem se unir em uma federação partidária –, PSB e PSOL (estes, por meio de coligação).
Mais cedo, o diretório nacional também votou e aprovou a federação com PV e PCdoB. O processo ainda terá de ser validado internamente pelo PV e submetido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A Rede, que estuda compor federação com o PSOL, também deve se aliar apesar das divergências internas. Há ainda negociações em andamento com o Solidariedade.
“É só mera formalidade. Todos os partidos já bateram martelo em apoiar. Alckmin será o candidato a vice-presidente. A nossa preocupação é colocar a campanha na rua”, disse o vice-presidente do PT, deputado José Guimarães (CE).
A resolução aprovada
No texto da resolução aprovada pelo diretório, os membros indicam “às delegadas e aos delegados que participarão do Encontro Nacional a aprovação desta aliança e desta composição de chapa”.
O texto afirma que a “eleição presidencial deste ano colocará em disputa dois projetos muito claros: o da democracia e o do fascismo”.
“Nossa política de alianças e a tática eleitoral, que já estão em construção e serão definitivamente aprovadas no Encontro Nacional de 4 e 5 de junho, apontam para a ampliação política necessária para derrotar Bolsonaro, num processo eleitoral que já se revela o mais duro desde a redemocratização do país”, segue o documento.
A coligação nacional com o PSB, diz a resolução, “será importante passo na direção almejada”.
“Confirmará nossa disposição de, no governo, implementar um programa de reconstrução e transformação do Brasil, ampliando nossa base social”, acrescenta.
O ex-governador de São Paulo foi indicado oficialmente pelo PSB para ocupar a candidatura a vice-presidente na última sexta (8). Em um evento com a presença de Gleisi, Lula e Alckmin, em São Paulo, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, entregou uma carta de indicação à presidente do PT.
No documento, Siqueira afirma que a eleição de 2022 é um “confronto decisivo entre democracia e autoritarismo”. “Para somar potência e amplitude à resistência contra o autoritarismo que será liderada pelo companheiro Lula, o PSB propõe para compor a chapa o nome companheiro Geraldo Alckmin”, segue Siqueira.
Tratando a escolha de Alckmin como certa, Lula discursou em defesa do ex-governador de São Paulo. O ex-presidente afastou desentendimentos históricos e destacou que Geraldo Alckmin é, agora, um “companheiro”.
“[Ele] foi vice do [Mário] Covas por seis anos, foi governador e tem experiência política. Nós vamos precisar da minha experiência e da experiência do Alckmin para reconstruir o país, conversando com toda a sociedade brasileira”, disse.
“Daqui para frente, você não me trata como ex-presidente e eu não te trato como ex-governador. Você me chama de companheiro Lula e eu chamo você de companheiro Alckmin”, afirmou Lula.
Próximos passos
Embora trate o acatamento da proposta como uma certeza, o PT só deve oficializar a chapa Lula-Alckmin nos dias 4 e 5 de junho, quando acontecerá um encontro nacional do partido.
É nele que, tradicionalmente, os delegados que compõem a sigla avaliam as candidaturas eleitorais. Em 2018, mesmo com Lula preso em Curitiba (PR), o encontro nacional aprovou e manteve a candidatura do ex-presidente ao Planalto, por exemplo.
Antes, porém, Geraldo Alckmin deve estar ao lado de Lula em um ato no dia 7 de maio. O evento é tratado internamente como o lançamento da pré-candidatura do ex-presidente.
Integrantes do partido avaliam que o encontro será apenas uma “formalidade”. As correntes que apoiam uma aliança com Alckmin também terão maioria no encontro.
Apenas a Construindo Um Novo Brasil (CNB) – corrente majoritária dentro do partido, da qual fazem parte Gleisi e Lula – terá 51% da composição. Tradicionalmente, a CNB tem maioria em todas as instâncias do partido.
Minoria no PT rejeita Alckmin
Até o evento de junho, entretanto, alas minoritárias do partido devem seguir articulando a rejeição ao nome de Alckmin. O calendário do encontro nacional prevê que as correntes poderão apresentar propostas de chapa até o dia 25 de maio.
Para essas correntes dissidentes, Gleisi e os membros da ala majoritária têm construído a aliança com Geraldo Alckmin “fora das instâncias” do partido.
Uma das correntes do partido, a Articulação de Esquerda (AE) se reuniu na última semana para apresentar uma resolução contrária ao ex-integrante do PSDB. No documento enviado aos membros do diretório nacional, a AE destaca que “os partidários de Alckmin na vice nunca a propuseram e nunca a defenderam nas instâncias partidárias”.
A rejeição a Alckmin não termina apenas com os membros da direção do partido. Nesta terça (12), durante uma visita ao Acampamento Terra Livre em Brasília, militantes tentaram iniciar o coro “Alckmin, não”. A iniciativa não foi para frente.
Em vídeo interno do PT, divulgado na última segunda (11), Gleisi Hoffmann defendeu, mais uma vez, o acolhimento do ex-governador no partido.
“Eu acho que significa o encaminhamento de uma aliança importante com o PSB, que é um partido com quem a gente já tem caminhado nos últimos anos no Congresso Nacional e também nos movimentos sociais contra o governo Bolsonaro”, disse Gleisi.
“Isso mostra a articulação e a necessidade de a gente ter uma frente ampla de combate ao Bolsonaro, de combate aos ataques à democracia. Muita gente me pergunta: ‘Mas o Alckmin foi adversário do PT por tantos anos e agora tá junto?’ Foi adversário, disputamos eleições com o PSDB, tivemos contenda, temos diferenças, mas sempre fizemos nossa disputa dentro da democracia. O que nós temos hoje é algo completamente diferente”, acrescentou.
A AE afirma que não vai tratar como encerrada a escolha ao nome do vice na chapa de Lula, mesmo com o aceite da indicação de Alckmin por parte do diretório nacional.
“Seguiremos defendendo que outra vice é possível e necessária. Neste sentido, buscaremos construir uma ação comum com os setores do partido defensores de outra vice, tática que em nossa opinião deve incluir a apresentação, ao encontro nacional, de uma candidatura a vice que não tenha vínculos com o golpismo, nem com o neoliberalismo”, acrescenta.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, as convenções partidárias para a escolha de candidatos deverão ocorrer entre os dias 20 de julho e 5 de agosto. O registro da candidatura deve ser apresentado à Justiça Eleitoral a partir do dia 20 de julho. O prazo máximo é dia 15 de agosto.
O PT ainda deve agendar a convenção nacional do partido. No entanto, segundo Guimarães, a convenção repetirá apenas o resultado do encontro nacional. “Vai ser um espelho. Se aprovar – e vai aprovar – Alckmin no encontro, a convenção vai repetir”, declarou.
g1